O bingo sempre foi associado ao lazer e à comunidade, mas nos últimos anos evoluiu para uma forma reconhecida de terapia social em ambientes de cuidados geriátricos. Profissionais de saúde e psicólogos estão cada vez mais a integrar sessões estruturadas de bingo nos planos de tratamento holísticos, com o objetivo de apoiar a saúde mental, a função cognitiva e o bem-estar emocional de pacientes idosos. Com o envelhecimento da população na Europa e nos Estados Unidos, o potencial terapêutico do bingo tem atraído atenção em ambientes clínicos e académicos.
Evidências clínicas mostram que o bingo fornece estimulação cognitiva essencial para preservar as faculdades mentais em adultos mais velhos. A estrutura do jogo — que exige concentração, reconhecimento de números, memória e respostas rápidas — ativa simultaneamente várias áreas cognitivas. Isso tem sido especialmente útil no tratamento de pacientes com demência em estágio inicial ou comprometimento cognitivo leve. Estudos realizados pelo NHS do Reino Unido indicaram que o bingo melhora o tempo de reação e a memória de curto prazo em participantes com mais de 70 anos.
Além da sua exigência mental, o bingo introduz previsibilidade e rotina, o que pode reduzir a ansiedade e a confusão entre pacientes idosos. Clínicas geriátricas na Dinamarca, Alemanha e Países Baixos frequentemente integram sessões de bingo nos cronogramas semanais para proporcionar consistência e reduzir a inquietação. Os pacientes beneficiam não só do jogo, mas também do ritual calmante da participação repetida.
Um estudo publicado em 2024 pela American Geriatrics Society revelou que residentes em lares que jogavam bingo duas vezes por semana apresentavam taxas mais lentas de declínio cognitivo em comparação com aqueles que não participavam de nenhuma atividade mental estruturada. Estes resultados influenciaram as estratégias de cuidados em instalações nos EUA.
Para além da estimulação cognitiva, o bingo promove conexão emocional entre os idosos, especialmente aqueles que vivem em instituições ou enfrentam isolamento social. Ele oferece um ambiente social de baixa pressão onde os participantes interagem, riem e partilham experiências — ajudando a combater sentimentos de solidão e depressão.
Psiquiatras geriátricos de instituições como o Hospital Universitário Karolinska, na Suécia, elogiaram o bingo como um método acessível para reduzir o isolamento emocional. Quando coordenadas com o apoio de terapeutas, estas sessões podem tornar-se momentos de troca interpessoal significativa, especialmente para pacientes com mobilidade reduzida ou dificuldades de comunicação.
Nos EUA, centros como a Cleveland Clinic integraram o “bingo terapêutico” com sessões de aconselhamento. Estas sessões incluem estímulos sociais guiados, permitindo que os terapeutas observem respostas emocionais e comportamentais em contextos seguros e descontraídos.
O bingo passou de uma atividade recreativa para um componente formal dos planos de cuidados geriátricos. Instituições na Europa e na América do Norte incluem-no cada vez mais em programas de terapia ocupacional, com avaliações baseadas em resultados. Profissionais de saúde são treinados para adaptar regras e formatos do jogo conforme as necessidades dos pacientes.
Na Alemanha e França, lares de idosos com financiamento público receberam subsídios ao abrigo de programas da UE para melhorar a qualidade de vida dos idosos, onde o bingo terapêutico estruturado está incluído nas atividades de bem-estar mental. O uso de cartões com letras grandes, amplificadores de voz e até aplicações digitais adaptadas para tablets permite maior acessibilidade.
A profissionalização da recreação terapêutica também contribuiu para o status formal do jogo nos cuidados. Terapeutas recreativos certificados nos EUA utilizam o bingo como ferramenta nos Planos de Cuidados Individualizados (ICPs), documentando os níveis de envolvimento e observando melhorias comportamentais ao longo do tempo. Esses dados ajudam médicos e familiares a acompanhar o progresso psicossocial dos pacientes.
Apesar dos benefícios bem documentados, a implementação de programas de bingo terapêutico requer formação adequada. Nem todos os auxiliares ou cuidadores têm a preparação necessária para conduzir sessões com objetivo terapêutico. São essenciais competências de comunicação, empatia e conhecimento sobre condições relacionadas com a idade.
Instalações na Bélgica e Espanha lançaram programas-piloto em parceria com universidades para formar voluntários e funcionários na condução de sessões de bingo estruturadas. A formação inclui módulos sobre dinâmica de grupo, comunicação terapêutica e reconhecimento precoce de sinais de angústia ou desinteresse.
Outro desafio importante é manter o interesse dos residentes. Para isso, as clínicas costumam criar sessões temáticas com base em feriados, eventos históricos ou música — transformando o jogo num momento cultural enriquecedor. A variedade temática ajuda a manter altos níveis de envolvimento, especialmente entre os residentes de longa permanência.
A pandemia acelerou a digitalização dos serviços de saúde, e o bingo foi também adaptado. Clínicas geriátricas e lares começaram a experimentar versões digitais do jogo, usando tablets e projetores para realizar sessões interativas entre salas e até entre instituições diferentes.
Na Noruega e nos Estados Unidos, o bingo remoto passou a fazer parte de modelos híbridos de terapia para idosos que vivem em casa mas estão inscritos em cuidados externos. Estas sessões são supervisionadas por terapeutas via videoconferência, garantindo que os benefícios terapêuticos do jogo sejam mantidos com acessibilidade ampliada.
Empresas tecnológicas na Suécia e Países Baixos estão a desenvolver jogos de bingo com suporte de inteligência artificial que ajustam automaticamente o nível de dificuldade com base no desempenho do utilizador. Estas aplicações inteligentes têm potencial não apenas para entretenimento, mas também para a deteção precoce de declínio cognitivo — área já em estudo clínico.
O crescimento do uso terapêutico do bingo traz também considerações éticas. É fundamental garantir que os participantes não sejam infantilizados ou pressionados a participar. O respeito pela autonomia e pelas preferências individuais deve ser central em qualquer atividade terapêutica, especialmente com populações vulneráveis.
Pesquisas futuras devem explorar como o bingo e outros jogos sociais podem ser integrados à recolha de dados biométricos e aprendizagem automática para personalizar ainda mais os tratamentos. Estão em desenvolvimento estudos transnacionais financiados pela UE para avaliar o impacto psicológico a longo prazo destas intervenções.
Pelo seu baixo custo, facilidade de aplicação e familiaridade cultural, o bingo revela-se uma ferramenta humana e poderosa nos cuidados geriátricos. À medida que a terapia para idosos evolui, este jogo simples pode ajudar-nos a entender melhor como a interação social estruturada apoia a resiliência mental e emocional na terceira idade.